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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
Antigo Egito
Estereótipo egípcio.
O Antigo Egito foi uma civilização da Antiguidade oriental do Norte de África, concentrada ao longo ao curso inferior do rio Nilo, no que é hoje o país moderno do Egito. Era parte de um complexo de civilizações, as "Civilizações do Vale do Nilo", do qual também faziam parte as regiões ao sul do Egito, atualmente no Sudão, Eritreia, Etiópia e Somália. Tinha como fronteiras o Mar Mediterrâneo, a norte, o Deserto da Líbia, a oeste, o Deserto Oriental Africano a leste, e a primeira catarata do Nilo a sul.1 O Antigo Egito foi umas das primeiras grandes civilizações da Antiguidade e manteve durante a sua existência uma continuidade nas suas formas políticas, artísticas, literárias e religiosas, explicável em parte devido aos condicionalismos geográficos, embora as influências culturais e contactos com o estrangeiro tenham sido também uma realidade.2
A civilização egípcia se aglutinou em torno de 3 150 a.C.3 com a unificação política do Alto e Baixo Egito, sob o primeiro faraó (Narmer), e se desenvolveu ao longo dos três milênios seguintes.4 Sua história desenvolveu-se ao longo de três grandes reinos marcados pela estabilidade política, prosperidade económica e florescimento artístico, separados por períodos de relativa instabilidade conhecidos como Períodos Intermediários. O Antigo Egito atingiu o seu auge durante o Império Novo (ca. 1 550–1 070 a.C.), uma era cosmopolita durante a qual, graças às campanhas militares do faraó Tutmés III, o Egito dominou, uma área que se estendia desde a Núbia, entre a quarta e quinta cataratas do rio Nilo, até ao rio Eufrates,5 tendo após esta fase entrado em um período de lento declínio. O Egito foi conquistado por uma sucessão de potências estrangeiras neste período final. O governo dos faraós terminou oficialmente em 31 a.C., quando o Egito caiu sob o domínio do Império Romano e se tornou uma província romana, após a derrota da rainha Cleópatra VII na Batalha de Áccio.6
O sucesso da antiga civilização egípcia deve-se em parte à sua capacidade de se adaptar às condições do Vale do Nilo. A inundação previsível e a irrigação controlada do vale fértil produziam colheitas excedentárias, o que alimentou o desenvolvimento social e cultural. Com recursos excedentários, o governo patrocinou a exploração mineral do vale e nas regiões do deserto ao redor, o desenvolvimento inicial de um sistema de escrita independente, a organização de construções coletivas e projetos de agricultura, o comércio com regiões vizinhas, e campanhas militares para derrotar os inimigos estrangeiros e afirmar o domínio egípcio. Motivar e organizar estas atividades foi uma tarefa burocrática dos escribas de elite, dos líderes religiosos, e dos administradores sob o controle de um faraó que garantiu a cooperação e a unidade do povo egípcio, no âmbito de um elaborado sistema de crenças religiosas.7 8
As muitas realizações dos antigos egípcios incluem o desenvolvimento de técnicas de extração mineira, topografia e construção que permitiram a edificação de monumentais pirâmides, templos e obeliscos; um sistema de matemática, um sistema prático e eficaz de medicina, sistemas de irrigação e técnicas de produção agrícola, os primeiros navios conhecidos,9 faiança e tecnologia com vidro, novas formas de literatura e o mais antigo tratado de paz conhecido, o chamado Tratado de Kadesh.10 O Egito deixou um legado duradouro. Sua arte e arquitetura foram amplamente copiadas e suas antiguidades levadas para os mais diversos cantos do mundo. Suas ruínas monumentais inspiraram a imaginação dos viajantes e escritores ao longo de séculos. O fascínio por antiguidades e escavações no início do Idade Contemporânea esteve na origem da investigação científica da civilização egípcia e levou a uma maior valorização do seu legado cultura.
Etimologia
Os egípcios usaram vários nomes para se referirem à sua terra. O mais comum era Kemet, "a Terra Negra" ou "Terra Fértil", que se aplicava especificamente ao território nas margens do Nilo e que aludia à terra negra trazida pelo rio todos os anos.12 13 Decheret, "Terra Vermelha", referia-se aos desertos que circundavam o Nilo, onde os egípcios só penetravam para enterrar os seus mortos ou para explorarem pedras e metais preciosos. Também poderiam chamá-la Taui ( "as Duas Terras", ou seja, o Alto e o Baixo Egito), Ta-meri ("Terra Amada") ou Ta-netjeru ("A Terra dos Deuses"). Na Bíblia o Egito é denominado Misraim. A actual palavra Egito deriva do grego Aigyptos (pronunciado Aiguptos), que se acredita derivar por sua vez do egípcio Het-Ka-Ptah, "a mansão da alma de Ptah".14 15
Os habitantes atuais do Egito dão o nome Misr ao seu país, uma palavra que em árabe pode também significar "país", "fortaleza" ou "acastelado". Segundo a tradição, Misr é o nome usado no Alcorão para designar o Egito, e o termo pode evocar as defesas naturais de que o país sempre dispôs. Outra teoria é que Misr deriva da antiga palavra Mizraim, que por sua vez deriva de md-r ou mdr, usada pelos locais para designar o seu país.16
História
Ver artigos principais: História do Antigo Egito e Pré-História do Egito
No final do período paleolítico, o clima árido do Norte da África tornou-se cada vez mais quente e seco, forçando as populações da área a se concentrarem ao longo do Vale do Nilo, cuja fertilidade assegura o sustento do Egito desde os tempos dos caçadores e coletores nômades do Pleistoceno Médio (ca. 780-120 mil anos atrás) até à atualidade.17 A planície fértil do Nilo deu aos homens a oportunidade de desenvolver uma economia agrícola sedentária e uma sociedade mais sofisticada e centralizada que se tornou um marco na história da civilização humana.
Período pré-dinástico
Nos períodos pré-dinástico e dinástico, o clima do Egito, assim como do Saara como um todo, sofreu repentinas variações climáticas que provocaram períodos de extrema seca e desertificação, assim como períodos de clima favorável e úmido: em fases úmidas o Saara era dominado por uma savana rica em fauna (aves e mamíferos) e flora.19 20 A caça teria sido muito importante entre os egípcios, pois fornecia carne.21 As primeiras evidências de domesticação animal são provenientes do Deserto Ocidental tendo sido datadas de 8 800-6 800 a.C.: os animais domésticos eram criados com base no modelo de pastoreio africano, no qual os animais fornecem leite e sangue, e não carne.22 Por volta de 5 500 a.C., pequenas comunidades que habitavam o vale do Nilo evoluíram para aglomerados culturais complexos caracterizados pelo amplo domínio da agricultura (os vestígios mais antigos de tal prática foram encontrados em Faium23 ) pecuária e por manufatura de objetos e cerâmica, assim como de um comércio primitivo: a cultura Faiumiana (5 400-4 400 a.C.) desenvolveu pleno domínio em tecelagem;24 25 a cultura Merimde (5 000-4 100 a.C.) construiu os primeiros túmulos egípcios neolíticos conhecidos (localizados no interior do assentamento), tendo possivelmente desenvolvido práticas rituais;26 27 28 a cultura Omariana (4 600-4 400 a.C.) produziu os mais antigos artefatos em cobre do Egito;29 e a Badariana (4 400-4 000 a.C.) produziu os primeiros exemplos de faiança e vidro à base de esteatita.30 31 32
Na cultura Maadiana (3 800-3 200 a.C.) se verificou o surgimento dos primeiros cemitérios bem definidos33 assim como de um intenso comércio: importavam produtos do Oriente Médio (madeira de cedro,34 nódulos de sílex, cerâmica, ferramentas de pedra, resinas, óleos, vinho, cobre, basalto), Alto Egito (pentes, cerâmica, marfim, paletas cosméticasnt 1 , cabeças de clava) e Deserto Oriental (malaquita, manganês, cornalina, conchas, pérolas); exportavam cerâmica, conchas e cereais para o Oriente, cobre, basalto e sílex para o Alto Egito.35 Sítios como Saís e Buto tornaram-se centros de propagação cultural.36 A Cultura Naqada (4 000-3 000 a.C.) foi caracterizada pelo surgimento de elites regionais mercantis centradas em grandes centros de poder (Naqada, Hieracômpolis, Gebelein, Abadiya, Abidos). Tais centros evoluíram para estados regionais belicosos que disputaram entre si o poder, terras mais férteis e controle das rotas comerciais.37 38 39 Possivelmente estes estados regionais delinearam a divisão administrativa egípcia conhecida como nomos.40 41 42 Durante os 1 000 anos de existência da cultura Naqada os centros regionais variaram em tamanho e poder: em Naqada I o maior centro era Naqada; em Naqada II (3 500-3 200 a.C.) era Hierakonpolis; em Naqada III (3 200-3 000 a.C.) era Abidos/Tinis.43 44 45 46 31 47 Esses centros tiveram cemitérios relacionados onde as elites eram sepultadas com rico espólio tumular.48 49 50 No final de Naqada II e durante Naqada III surgem as primeiras evidências de líderes regionais e, posteriormente, dos primeiros faraós.51 23
A cultura Naqada fabricou uma gama diversificada de bens materiais, reflexo do crescente poder e riqueza da elite: vasos (em basalto, marfim, cobre, osso e cerâmica), adereços pessoais (em osso, lápis-lazúli, conchas, faiança, madeira, ouro, prata e cobre), paletas cosméticas zoomórficas e antropomórficas (em grauvaque e ardósia), esteatita vítrea, figuras antropomórficas e zoomórficas (em marfim e terracota), cabeças de clava discoides e depois em forma de pera;48 52 esferas de ferro meteorítico são os mais antigos exemplos do uso de ferro no mundo.53 54 55 56 57 Durante Naqada I os primeiros exemplos de habitações construídas com tijolos são evidentes.58 59 60 61
Durante o período naqadano algumas transformações sócio-econômicas importantes são evidentes: intensa importação (obsidiana, cobre, vasos, lápis-lazúli, marfim, ébano, incenso, pele de gatos selvagens, óleos, pedras e conchas) e exportação (alabastro, contas de ouro, faiança, lâminas, amuletos de "cabeças bovídeas") de produtos;62 63 50 64 65 surgimento de costumes religiosos (uso de estelas e sarcófagos) assim como alguns deuses do panteão egípcio (Hórus, Bat, Seth, Nekhbet e Min);66 criação da escrita hieroglífica (possivelmente baseada na escrita mesopotâmica67 );68 69 arte e iconografia, ambas representadas em paletas cosméticas.
Época Tinita
No século III a.C., o sacerdote Manetão estabeleceu uma cronologia dos faraós desde Menés aos seus contemporâneos, agrupando-os em 30 dinastias, um sistema ainda em uso atualmente.72 Ele escolheu para começar a sua história oficial o rei chamado Meni (em grego: Menés) que se acredita ter sido o unificador dos reinos do Alto e Baixo Egito (ca. 3 100 a.C.).73 Na realidade, a transição para um estado unificado aconteceu de forma mais gradual do que os escritores egípcios relatam, e não há registro contemporâneo de Menés. Alguns académicos acreditam, no entanto, que o mítico faraó Menés pode realmente ter sido o faraó Narmer, que é retratado vestindo trajes reais sobre a cerimonial Paleta de Narmer em um ato simbólico de unificação,74 ou então o faraó Hórus Aha.75
Durante o período tinita (ca. 3 150 a.C.), a primeira dinastia de faraós consolidou seu controle sobre o Alto Egito mudando a capital de Tinis para a recém-fundada Mênfis,76 a partir da qual eles poderiam controlar a força de trabalho e a agricultura do fértil Delta, bem como as rotas do lucrativo e fundamental comércio com o Levante (especialmente com o corredor sírio-palestino de onde obtinham a madeira de cedro). Os faraós realizaram ataques contra núbios, líbios e beduínos, assim como realizaram incursões no Sinai em busca de cobre e turquesa e no Mar Vermelho para exploração das minas locais.75 O crescente poder e riqueza dos faraós durante o período dinástico se refletiu em suas mastabas elaboradas e em estruturas de culto mortuário em Abidos, que foram utilizadas para celebrar o faraó endeusado após sua morte.77 A forte instituição da realeza desenvolvida pelos faraós serviu para legitimar o controle estatal sobre a terra, trabalho e recursos que foram essencialmente para a sobrevivência e o crescimento da antiga civilização egípcia.
Império Antigo
No Império Antigo ocorreram diversas expedições para exploração mineral nas minas do Sinai e Mar Vermelho assim como campanhas militares contra núbios e líbios. Concomitantemente, o comércio com o Oriente Próximo (Líbano, Palestina, Mesopotâmia) e o Punt intensificou-se e, juntamente com os sucessos militares, possibilitou ao Egito fundar acampamentos estratégicos e uma frota marítima, assim como adquirir ouro, cobre, turquesa, madeira de cedro, mirra, malaquita e electrum.79
Durante o Império Antigo, uma administração central bastante desenvolvida tornou possível o aumento da produtividade agrícola, o que serviria de motor para impressionantes avanços nos campos da arquitetura, arte e tecnologia.80 Sob a direção do tjati (vizir), funcionários do Estado arrecadavam impostos, coordenavam projetos de irrigação para melhorar o rendimento das culturas, recrutavam camponeses para trabalhar em projetos de construção e estabeleceram um sistema de justiça que assegurava a manutenção da ordem e da paz.81 Com os excedentes dos recursos disponibilizados por uma economia produtiva e estável, o Estado foi capaz de patrocinar a construção de monumentos colossais e a excepcional comissão de obras de arte para as oficinas reais.82
A par da crescente importância da administração central, surgiu uma nova classe de escribas e oficiais letrados que receberam propriedades do faraó como pagamento pelos seus serviços.79 Os faraós também fizeram concessões de terras para seus cultos funerários e templos locais, de forma a garantir que estas instituições teriam recursos necessários para a adoração do faraó após a sua morte. Acredita-se que cinco séculos de práticas feudais corroeram lentamente o poder econômico do faraó, e que a economia deixou de conseguir sustentar uma grande administração central.83 Com a diminuição do poder do faraó, governantes regionais designados nomarcas começaram a desafiar a supremacia do faraó.79 Isso, em conjunto com um período de secas extremas entre 2 200-2 150 a.C.,84 é apontado como causa da transição para um período de 140 anos de fome e conflitos conhecido por Primeiro Período Intermediário
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